A palavra hebraica para arrependimento é noham. É usada
para indicar tanto o arrependimento humano quanto o arrependimento de
Deus no Antigo Testamento.
É do conhecimento de todos que a Bíblia fala do arrependimento
de Deus. Mas como o arrependimento de Deus deve ser entendido? Será que
o arrependimento humano serve de parâmetro para o arrependimento
de Deus? O arrependimento de Deus é o mesmo dos homens? Deus realmente
se arrepende?
Antes de responder a estas perguntas, é preciso observar, primeiramente,
que a Bíblia trata do arrependimento de Deus nas seguintes passagens:
Gênesis 6.5-7 (Viu o Senhor que a maldade do homem se havia multiplicado
na terra, e que era continuamente mau todo desígnio do seu coração;
então se arrependeu o SENHOR de ter feito o homem na terra, e
isso lhe pesou no coração. Disse o SENHOR: Farei desaparecer
da face da terra o homem que criei, o homem e o animal, os répteis,
e as aves dos céus; porque me arrependo de os haver feito);
Êxodo 32. 12 (Por que hão de dizer os egípcios:
Com maus intentos os tirou, para matá-los nos montes e para consumi-los
da face da terra? Torna-te do furor da tua ira e arrepende-te deste mal
contra o teu povo);
I Samuel 15.10,11,35 (Então, veio a palavra do SENHOR a Samuel,
dizendo: Arrependo-me de haver constituído Saul rei, porquanto
deixou de me seguir e não executou as minhas palavras...O SENHOR
se arrependeu de haver constituído Saul rei sobre Israel);
2 Samuel 24.16 (Estendendo, pois, o Anjo do
SENHOR a mão sobre
Jerusalém, para a destruir, arrependeu-se o SENHOR do mal e disse
ao Anjo que fazia a destruição entre o povo: Basta, retira
a mão...);
Jeremias 18.7,8 (No momento em que eu falar
acerca de uma nação
ou de um reino para o arrancar, derribar e destruir, se a tal nação
se converter da maldade contra a qual eu falei, também eu me arrependerei
do mal que pensava fazer-lhe);
Joel 2.13 (Rasgai o vosso coração, e não as vossas
vestes, e convertei-vos ao SENHOR, vosso Deus, porque ele é misericordioso,
e compassivo, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e se arrepende
do mal);
Jonas 3.10 (Viu Deus o que fizeram, como se
converteram do seu mau caminho; e Deus se arrependeu do mal que tinha
dito lhes faria e não o
fez).
Como entender estas passagens à luz de um contexto bíblico
mais amplo? Cremos que o Dr. James Packer está correto quando
diz: "A referência em cada caso é sobre a anulação
de um prévio tratamento dispensado a certos homens, como conseqüência
da reação deles a esse tratamento. Mas não há sugestão
de que essa reação não tenha sido prevista, ou que
Deus tenha sido tomado de surpresa, e que não estivesse estabelecida
em seu plano eterno. Não há mudança alguma em seu
propósito eterno quando Ele começa a agir em relação
a um homem de maneira diferente".
Além dos textos bíblicos acima, outras passagens são
categóricas em afirmar que Deus nunca se arrepende:
Números 23.19 (Deus não é homem, para que minta;
nem filho de homem, para que se arrependa. Porventura, tendo ele prometido,
não o fará? Ou, tendo falado, não o cumprirá?);
I Samuel 15.29 (Também a Glória de Israel não mente,
nem se arrepende, porquanto não é homem, para que se arrependa);
Oséias 13.14 (...Meus olhos não vêem
em mim arrependimento algum).
Não existe contradição alguma entre os textos que
dizem que Deus se arrepende e os que afirmam de outra maneira. Pelo contrário,
essas três últimas passagens bíblicas estabelecem
definitivamente que o arrependimento de Deus nunca deve ser entendido
como o arrependimento humano. E por que não? Simplesmente porque
o arrependimento do homem é causado pelo reconhecimento de uma
atitude precipitada, como resultado da ignorância do que havia
de acontecer. Nós nos arrependemos porque erramos. No caso de
Deus é extremamente diferente. Ele jamais comete erros. Em Deus "não
pode existir variação, ou sombra de mudança" (Tg
1.17).
Quando a Bíblia fala de Deus se arrependendo e mudando sua intenção
para com o homem, "evidentemente é só a maneira humana
de falar. Na realidade a mudança não é em Deus mas
no homem e nas relações do homem com Ele" (L. Berkhof).
Pink complementa: "Quando fala de si mesmo, Deus freqüentemente
acomoda a Sua linguagem às nossas capacidades limitadas. Ele Se
descreve a si mesmo como revestido de membros corporais como olhos, ouvidos,
mãos, etc. Fala de Si como tendo despertado (Salmo 78.65) e como ‘madrugando’ (Jeremias
7.13), apesar de que Ele não cochila nem dorme. Quando Ele estabelece
uma mudança em Seu procedimento para com os homens, descreve a
Sua linha de conduta em termos de arrepender-se". Em suma, o arrependimento
de Deus não ocorre por causa de qualquer mudança nEle,
mas por causa de nossa mudança para com Ele.
Fonte: Monergismo
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