terça-feira, 27 de agosto de 2013

CONHECENDO A FAMÍLIA DE JESUS (MC 3.31-35) - Por Otniel Cabral Ramos


Nisto, chegaram sua mãe e seus irmãos e, tendo ficado do lado de fora, mandaram chamá-lo. Muita gente estava assentada ao redor dele e lhe disseram: Olha, tua mãe, teus irmãos e irmãs estão lá fora à tua procura. Então, ele lhes respondeu, dizendo: Quem é minha mãe e meus irmãos? E, correndo o olhar pelos que estavam assentados ao redor, disse: Eis minha mãe e meus irmãos. Portanto, qualquer que fizer a vontade de Deus, esse é meu irmão, irmã e mãe.


       I.            A FAMÍLIA CONSANGUÍNIA DE JESUS (V31)

O relacionamento dessas pessoas ao longo da história tem sido alvo de discursões e como frutos destas, temos algumas afirmações:

1.        Meios-irmãos. Eles “eram meios-irmãos, filhos de um casamento anterior de José, Essa teoria, que foi desenvolvida por homens como Orígenes, Eusébio e Epifânio, está baseada na conjectura de que José era consideravelmente mais velho que Maria[1]” (p. 982).
2.        Frutos de um casamento levirato. “Um ponto de vista semelhante postula que os irmãos eram filhos de José por intermédio de um casamento levirato com uma viúva de Clopas, seu irmão” (idem).
3.        Primos de Jesus. A afirmação da Igreja Católica é que estes eram primos de Jesus[2], alguns argumentos que sustentam estas afirmações:
A palavra irmão, aqui tem o significado de primo ou parente próximo, pois a língua hebraica não possui a palavra primo.
A mãe de Jesus tinha uma parenta que se chamava também Maria, casada com Cleófas (João 19,25).
Judas era irmão de Tiago. De fato lemos: “Judas, irmão de Tiago” (Judas 1 e Lucas 6,16) todos eles eram primos de Jesus, ou parentes próximos, como Simão pelo mesmo motivo.
Primos ou parênteses de Jesus, “pois três desses “Irmãos de Jesus”, têm seus pais nomeados na Bíblia. Vejamos: o 1º é Tiago. É ele, segundo (Gálatas 1,19), Tiago Apóstolo, o Menor (Marcos 15,40), cujo pai é Alfeu (Mateus 10,3); o 2º, José, é irmão carnal de Tiago, pois ambos são filhos de uma das três Marias que estiveram ao pé da Cruz (Mateus 27,56), e cujo irmão pai é também Alfeu; o 3º é Judas, o Tadeu, que também é irmão de Tiago (Judas 1,1). Seu pai é também Alfeu. São Lucas o chama “Judas de Tiago” ou seu irmão (Lucas 6,16)”.
Exemplo bíblico em que os parentes são chamados de irmão:
Abraão e Ló (Gênesis 13,8)
4.        O termo primogênito “é termo jurídico da Bíblia que tem significado bem determinado: é o primeiro filho, quer venha outro ou não. Não se esperava por outro filho para que o 1º fosse tido e tratado como primogênito a vida toda”.
A afirmação bíblica é que estes eram meios-irmãos de Jesus, tendo em vista que eles nasceram após Jesus.

O ponto um e o dois acima relatados não tem muita sustentação, no entanto, o três é o mais divulgado e amplamente aceito pela Igreja Católica, vejamos algumas objeções[3]:

1.    O Novo Testamento foi escrito em grego, não em hebraico, quando se é utilizado à palavra primo em passagens no NT sua compreensão é clara, pois, segundo o dicionário Vine, o termo grego que significa primo (anepsios), é usado na relação de Barnabé e Marcos (Cl 4.10), e em nenhuma outra passagem bíblica  este termo é usado para os irmãos de Jesus[4] (p.898).
2.      O termo utilizado para se referir as irmãs de Jesus (Mt 13.56), no grego adelphe, denota relação natural, sendo empregado em outra passagem também, Mt 19.29[5] (p. 723).
3.      O termo grego irmão (adelpho) significa “irmão” ou “parente próximo”. Com relação ao texto de Mt 13.55, diz respeito filhos de uma mesma mãe, portanto, são irmãos[6] (p.723).
4.      Não é possível identificar os irmãos descrentes de Cristo (Jo 7.5) com os apóstolos;
5.      As Escrituras fazem uma clara distinção entre os irmãos de Cristo e os apóstolos (Jo 2.12; At 1.13,14).
6.      Várias passagens apresentam os irmãos de Jesus e sua família (Mt 12.46, 47; Mc 6.3; Lc 8.19, 20; Jo 2.12; 7.3, 5, 10; At 1.14).
7.      É muito significativo que estejam associados à mãe de Jesus (Mt 13.55,56; Jo 2.12; At 1.14).
8.      Lucas ao escrever o seu evangelho enfatiza que Jesus era o primogênito (Lc 2.7). Esse ponto por si só não é forte, no entanto, com os demais o é.
9.      E que José não havia conhecido a Maria até que deu a luz a seu filho (Mt 1.25) [7]. O termo conhecer aqui tem o significado de intimidade sexual (p 314) [8].

Portanto o que podemos concluir é que de fato, Jesus tinha irmãos e irmãs.

    II.            JESUS APROVEITA A INTERRUPÇÃO PARA ENSINAR (3.32). Jesus aproveitou outras situações em que foi interrompido para operar milagre e proclamar o reino de Deus mediante o ensino: quando ele estava orando (1.35), falando a uma multidão (2.1ss), dormindo no barco (4.37ss), conversando com os seus discípulos (8.31ss) ou viajando (10.46ss).
 III.            A VONTADE DE DEUS EM PRIMEIRO LUGAR (33,34). Jesus ensina que assim como ele faz a vontade de Deus, deve todos fazer a vontade de Deus.  Buscar fazer a vontade de Deus deve ser uma primazia (Mt 6.33; 10.37; Lucas 14.26). Por isso Jesus não consentiu que sua mãe o desviasse da missão a qual devia fazer (21) nem tampouco que o seus irmãos o interferissem (Jo 7.2ss).

Maria errou mais uma vez em não compreender a vontade de Deus para o seu filho. “Mas como aconteceu em João 2.3, onde Maria rapidamente reconheceu o seu erro, e foi fortalecida em sua fé (Jo 2.5), pela palavra carinhosa, mas de reprimida, que Jesus lhe disse (Jo 2.4), não é razoável pensar que o mesmo aconteceu nesse caso, ao ouvir as palavras do Salvador (3.33-35)? Não temos nenhuma razão para crer que a fé de Maria, que se expressa belamente em Lucas 1.38, 46-55; 2.19, 51, não tenham triunfado pela graça de Deus, sobre todas as derrotas temporárias. O texto de Atos nos mostra, claramente, que, ao final, não só Maria, mas também os irmãos de Jesus compartilharam os louros da vitória” (p. 187).

 IV.            JESUS MOSTRA QUE TODOS QUE FAZEM A VONTADE DE DEUS SÃO PARTES DA FAMÍLIA DE DEUS (V35).
No texto do versículo 35 o chamado é geral, com uma exceção, fazer a vontade de Deus, ou seja, ele é inclusivo e exclusivo.
1.      O inclusivo (qualquer). Raça, sexo, etnia, condição social etc.
Na nova criação há um novo relacionamento com o Pai que está no céu (Mt 23.9).
A igreja torna-se a família ou a casa de Deus (Ef 2.19; 1 Tm 3.15; Hb 3.6; 1 Pe 4.17).
Jesus chama aqueles que são salvos de irmãos (Hb 2.11).
Tornamo-nos parte de uma só família (Gl 6.10)

2.      O exclusivo (qualquer que faz a vontade de Deus). A essência do que Deus quer é visto no livro de Marcos, vejamos:
a.       Ouvidos atentos (4.9. 20. 24);
b.      Anunciar o evangelho de Cristo (5.19; 13.10);
c.        Não viver uma vida de práticas do Pecado (5.34);
d.      Descanso em Jesus (6.31);
e.       Servir aos outros, ou seja, uma vida de serviço (6.37; 9,35-37; 10.42-45);
f.       Uma vida de renúncia (8.34-38);
g.      Uma vida de fé nas promessas de Deus (9.23; 11. 22-26; 30-31);
h.      Uma vida que honre a Deus (12.17);
i.        Que coloque Deus como primazia (12.29-31; 41-44);
j.        De vigilância ( 13.5, 37);
k.      Dependência do Espírito Santo (13.11);
l.        Uma vida de perseverança em meio a perseguição (13.13).

    V.            CONSIDERAÇÕES FINAIS
Só Deus nos dá condição de fazermos a sua vontade (Ef. 2.8; Fp 2.12,13). Só Jesus é quem nos capacita (1.17). O poder de Deus é quem Salva (10.27) e o sacrifício substitutivo de Jesus Cristo, o filho de Deus (10.45; 14.24), nos faz participantes desta grandiosa família que tem a sua morada garantida (Fp 3.20).


Referência:
GEISLER. Norman L. Ética Cristã: opções e questões contemporâneas. São Paulo: Vida Nova, 2ª ed. 2010.
HENDRIKSEN, William. Marcos. São Paulo: Editora Cultura Cristã, 2003.
PFEIFFER (org.). Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD. 2009.
VINE, E W; UNGER, Merril F.; JUNIOR, William W. Dicionário vine: o significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.




[1] PFEIFFER (org). Dicionário Bíblico Wycliffe. Rio de Janeiro: CPAD. 2009.
[3] Extraída do dicionário bíblico Wycliffe (2007), p. 983.
[4] VINE, E W; UNGER, Merril F.; JUNIOR, William W. Dicionário vine: o significado exegético e expositivo das palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro: CPAD, 2002.
[5] Idem.
[6] Idem.
[7] Explicação do comentário Moody: “José consumou o período de noivado levando Maria para viver em sua casa para que Jesus por ocasião do Seu nascimento fosse o seu filho legítimo e herdeiro do trono, Entretanto, ele não a conheceu sexualmente até o nascimento. O enquanto não indica necessariamente o que aconteceu depois. Entretanto, qualquer um deduz logicamente que seguiu-se o relacionamento normal do casamento, a não ser que se pretenda defender a virgindade perpétua de Maria. Mateus revela que não tinha tal inclinação” (p.9).
[8] Ética Cristã, Norman Geisler.

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