sábado, 16 de julho de 2011

A Importância Geral da Adoração Pública - J. C. Ryle

Creio que não preciso demorar-me nesta parte de meu assunto. Este livreto provavelmente não cairá nas mãos de pessoas que não se declaram cristãs. Há poucos, exceto os incrédulos obstinados, que não fazem alguma confissão pública do cristianismo. A maioria das pessoas, independente de qual seja sua prática, admitirão que devemos nos reunir com outros cristãos, em tempos e lugares designados, para adorar a Deus juntos.

A adoração pública, ouso dizer, sempre foi uma marca dos servos de Deus. O homem, por regra geral, é um ser social e não gosta de viver separado de seus semelhantes. Em todas as épocas, Deus fez uso desse poderoso princípio e ensinou o seu povo a adorá-Ia de modo coletivo, em público, e de modo individual, em particular. Creio que o último dia revelará que, onde quer que Deus tivesse um povo, ali Ele tinha sempre uma congregação. Os seus servos, embora poucos em número, sempre se congregaram juntos e se aproximaram juntos do seu Pai celestial. Deus os ensinou a fazerem isso por muitas razões sábias: em parte, para que dessem um testemunho público ao mundo; em parte, para que fortalecessem, animassem, ajudassem, encorajassem e confortassem uns aos outros; e, acima de tudo, a fim de treiná-Ias e prepará-Ias para a assembleia geral no céu. “Como o ferro com o ferro se afia, assim, o homem, ao seu amigo” (Pv 27.17). Ver os outros fazerem e professarem as mesmas coisas que fazemos no cristianismo é uma grande ajuda e encorajamento à nossa alma - aquele que não percebe isso sabe pouco a respeito da natureza humana. 

Do começo ao fim da Bíblia, podemos acompanhar a adoração pública na história dos santos de Deus. Podemos vê-Ia na primeira família que viveu na terra. A história de Caim e Abel gira em torno de atos de adoração pública. Podemos encontrá-la na história de Noé. A primeira coisa registrada sobre Noé e sua família, após saírem da arca, foi um ato solene de adoração pública. Podemos vê-la também na história de Abraão, Isaque e Jacó. Onde quer que armassem sua tenda, erguiam um altar. Eles não somente oravam em particular, mas também adoravam em público. Podemos vê-la em toda a época da lei mosaica, do Sinai em diante, até que nosso Senhor apareceu. O judeu que não fosse um adorador público, no tabernáculo ou no templo, seria cortado da congregação de Israel. Podemos ver a adoração pública em todo o Novo Testamento. O próprio Senhor Jesus fez uma promessa especial de que estaria presente onde estivessem dois ou três reunidos em seu nome. Em cada igreja que fundaram, os apóstolos fizeram do dever de congregar juntos um dos mais importantes princípios em sua lista de deveres. A regra universal deles era: “Não deixemos de congregar-nos” (Hb 10.25). Essas são coisas antigas, eu sei; mas recordá-las nos faz bem. Assim como você pode definir como certo o fato de que, onde não há oração particular, ali não há graça no coração, assim também você pode estabelecer, com probabilidade elevada, que, onde não há adoração pública, ali não existe igreja de Deus nem pessoas que professam o cristianismo.

Consideremos agora as páginas da história da igreja. O que encontramos? Descobrimos que desde os dias dos apóstolos até agora a adoração pública tem sido um dos grandes instrumentos de Deus em fazer o bem à alma dos homens. Em que lugar são os pecadores geralmente despertados, e as almas que estão em trevas são iluminadas? Em que lugar os espíritos são vivificados, e os que têm dúvidas, trazidos à decisão? Em que lugar os entristecidos são animados, e os sobrecarregados acham alívio? Onde, senão na congregação pública de adorares cristãos, durante a pregação da Palavra de Deus? Remova de uma terra a adoração pública, feche as igrejas, proíba as pessoas de reunirem-se para cultos cristãos, proíba qualquer tipo de cristianismo, exceto o privado - faça tudo isso, e veja qual será o resultado. Você causará grande dano ao país que sofrer essas restrições. Não fará nada mais do que ajudar o Diabo e impedirá o progresso da causa de Cristo. Só faria pior se os privasse também da Palavra de Deus. Além da Palavra de Deus, não existe nada que faça tanto bem à humanidade como a adoração pública. “Assim, a fé vem pela pregação, e a pregação, pela palavra de Cristo” (Rm 10.17). Há uma presença especial de Cristo nas assembleias cristãs. Admito que a adoração pública pode se tornar um mero ato de formalidade. Milhares de supostos cristãos vão continuamente à igreja e não obtêm disso nenhum benefício. À semelhança das vacas magras do sonho de Faraó, eles não melhoram em nada; antes, pioram, tornando-se mais impenitentes e mais empedernidos. Não admiremos que o ignorante transgressor do domingo se defenda, dizendo: “De tudo que percebo, aqueles que não vão à igreja no domingo são pessoas tão boas quanto aqueles que vão à igreja”. Contudo, não devemos esquecer que o mau uso de uma coisa boa não é um argumento contra o seu uso. Se começássemos a recusar tudo que as pessoas usam mal neste mundo pecaminoso, dificilmente nos restaria alguma coisa boa. Amplie o seu discernimento sobre essa questão. Pense em qualquer lugar que você ama e divida as pessoas em dois grandes grupos, adoradores e não adoradores. Garanto que você achará mais bem entre os que adoram do que entre aqueles que não adoram. Não importa o que os homens digam, adorar a Deus faz diferença. Não é verdade que adoradores e não adoradores são todos iguais. 

Nunca devemos esquecer as solenes palavras da Epístola aos Hebreus: “Não deixemos de congregar-nos, como é costume de alguns; antes, façamos admoestações” (Hb 10.25). Obedeçamos a essa exortação, enquanto vivermos. E, mesmo em face de boa ou má reputação, sejamos frequentadores regulares da adoração pública. Não atentemos ao mau exemplo de outros ao nosso redor, os quais roubam de Deus o seu dia e jamais vão à sua casa, desde o começo até ao fim do ano. Vamos à adoração apesar de todo o desencorajamento. E não tenhamos dúvida de que, no decorrer da vida, isso nos faz bem. Comprovemos que estamos preparados para o céu por meio de nossos sentimentos para com as congregações terrenas do povo de Deus. Feliz é o homem que pode dizer como Davi: “Alegrei-me quando me disseram: Vamos à Casa do SENHOR”; “Prefiro estar à porta da casa do meu Deus, a permanecer nas tendas da perversidade” (Sl 122.1; 84.10).

Extraído do livro: Adoração - Prioridade, Princípios e Prática , de J.C. Ryle.
Copyright: © Editora FIEL


 

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