quarta-feira, 8 de dezembro de 2010

O Mundo: Campo de Aflições - Russell Shedd

O Mundo: Campo de Aflições
Por Russell Shedd

Em primeiro lugar, o mundo é o local onde se experimenta alegria e tristeza; “a tristeza do mundo produz a morte” para os que não têm fé (2 Co. 7.10). “No mundo passais por aflições” (Jo 16.33), falou Jesus aos seus seguidores. Não existe, neste mundo, um paraíso que nos permita escapar das dores físicas e mentais. Quem não seguir pelo caminho estreito da salvação, seguramente experimentará o peso da futilidade desta vida (Rm 8.20), além de um sem número de sofrimentos. O homem que gasta todas as suas forças e capacidades para evitar este vale de dores, amando sua vida neste mundo (Jo 12.25), certamente ficará mais decepcionado do que aquele que coloca poucas esperanças no mundo “que passa” (1 Co 7.31).

As aflições que acometem os filhos de Deus surgem de duas fontes. Eles sofrem as conseqüências da queda e da maldição de Deus sobre o mundo (cf. Gn 3.16-19) juntamente com toda a raça. Mas, além disso, são vítimas do ódio dos inimigos de Deus. O diabo não hesita em lançar “dardos inflamados” contra a igreja (Ef 6.16). Emprega os homens como seus servos (Jo 8.44) e os próprios demônios com crueldade eficaz (2 Co 12.7). 

Mas para os que aguardam a feliz esperança do céu, os sofrimentos desta vida no mundo devem ser apenas uma “leve e momentânea tribulação [que] produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação” (2 Co 4.17). Toda aflição que o mundo lança contra os cristãos, seja em forma de perseguição ou outra forma qualquer, será paga com pesada glória.

Por meio dos sofrimentos característicos do mundo, que envolvem suor, disciplina, cansaço e uma ampla gama de dores, o crente pode granjear valores que o alegrarão na eternidade. O mundo, visto sob este prisma, deve ser considerado uma escola para nossa fé. Deve criar alegria. Pedro, pelo menos, pensava assim: “Nisso exultais, embora, no presente, por breve tempo, se necessário, sejais contristados por várias provações, para que o valor da vossa fé, uma vez confirmado, muito mais precioso do que o ouro perecível, mesmo apurado por fogo, redunde em louvor, glória e honra na revelação de Jesus Cristo” (1 Pe 1.6s.). Fora do mundo, escaparíamos das aflições, mas também não teríamos nenhum campo para aumentar o galardão eterno. No mundo vindouro, não se deve esperar crescer, amadurecer ou se aperfeiçoar.

Jesus destacou esta verdade em duas parábolas preservadas por Mateus. Ele as pronunciou com o objetivo de encorajar seus discípulos a prestarem um serviço cristão no intervalo entre a Ascensão e a Segunda Vinda. A primeira relata a história de um homem rico que confiou a três dos seus escravos cinco, dois e um talentos, “segundo a sua própria capacidade” (Mt 25.14s.). Os escravos não receberam um convite para acompanhá-lo na viagem, mas foram enviados para negociar. Os dois primeiros saíram para o mundo para aumentar o valor recebido. Então, aconteceu que seus negócios foram bem sucedidos e deram um lucro de 100%. Assim como o mordomo incrédulo investe prudentemente para tirar vantagens futuras (Lc 16.1-12), os que amam a Deus usam sabiamente o mundo para aumentar sua alegria eterna. Nosso Senhor recomendou: “Das riquezas de origem iníqua (mundana) fazei amigos; para que, quando estas vos faltarem, esses amigos vos recebam nos tabernáculos eternos” (Lc 16.9). Esta vida no mundo, portanto, nos oferece oportunidades para aumentarmos nosso tesouro celestial (cf. Mt 6.19-21), por meio das pessoas ganhas e servidas. É o mundo que, necessariamente, nos fornece a matéria-prima. Pela refinação da fé em conflito com as tentações do mundo, o crente comprova sua salvação (1 Pe 1.7-9). Mais ainda, acrescenta galardões preciosos à própria salvação. Assim, quem procura desfrutar os valores presentes do mundo acaba por perdê-los na vida atual e também no mundo vindouro.

O terceiro escravo agiu de modo contrário. Desobedeceu a seu mestre, enterrando seu talento. O Senhor condenou-o porque não entregou o dinheiro aos banqueiros para aumentá-lo com juros (Mt 25.27). Neste dramático exemplo, aprendemos que se não utilizarmos o mundo para Deus, sairemos perdendo. A angustia e o remorso inconsolável serão resultados de uma perda eterna.

A segunda parábola trata do Grande Julgamento (Mt 25.31-46) e descreve como o Rei Jesus avaliará a vida dos seus seguidores. As ovelhas representam crentes que serviram a Cristo, identificado com seus irmãozinhos (v. 40), os cristãos famintos, desabrigados, nus e presos. Notamos novamente que todas essas manifestações de miséria só podem ocorrer nesta vida no mundo. Toda a possibilidade de servir aos injustiçados ou precisar do auxílio dos irmãos se limita ao mundo, que com freqüência provoca fome, necessidades e prisão dos fieis. Foi com notável clareza que Paulo se regozijou nos seus sofrimentos (Cl 1.24). Ao mesmo tempo, não mediu esforços para levantar uma grande oferta nas igrejas que fundou, para aliviar a miséria dos cristãos famintos da Judéia (2 Co 8 e 9).

Concluímos que o mundo amaldiçoado por Deus não é necessariamente um obstáculo para quem busca em primeiro lugar o reino de Deus. Ainda que esbofeteado pelo mundo, o servo obediente encontrará, precisamente nesse mundo, um campo de batalha, uma universidade para ganhar medalhas e colar graus para a vida eterna. Mas para aproveitar as oportunidades que o mundo oferece, o crente precisa valer-se de alguns valores do mundo e saber alcançar os valores eternos através deles.


Extraído do livro: O Mundo, a Carne e o Diabo, de Russell Shedd.


3 comentários:

Luiz Augusto disse...

Li esse texto e achei extremamente edificante. Ele mostra que, na realidade, as nossas aflições são oportunidades de juntarmos valores eternos (galardão) e, portanto, devemos agradece-las a Deus. Por isso resolvi digitar e postar.

Se ouver retorno, eu digito um texto de Spurgeon a respeito.

Júlio César disse...

Ao invés de reclamarmos com Deus acerca de situações difíceis, precisamos entender o propósito das mesmas. Declaramos que Ele será louvado não importando as circunstâncias, mas a prática nem sempre condiz com isso. Façamos de nossas canções tão emotivas ações práticas em nossas vidas.

Daniely Silva Duarte disse...

É isso mesmo gente, a verdade é essa:

E ele morreu por todos, para que os que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que por eles morreu e ressuscitou. (2 Co 5.15!)

Viver por e pra Jesus é aproveitar tudo nesta vida pra glória de Deus, até as tribulações!

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